Jacques Marie Edme Vielliard nasceu em Paris, em 22 de agosto de 1944, e desde a infância se encantou pelos cantos das aves. O estudo desses animais era a sua maneira de compreender a natureza. Tinha apenas 18 anos quando foi em sua primeira expedição internacional com o objetivo de fazer um inventário da fauna de Coto Doñana, reserva natural na região de Andalusia, na Espanha. O relatório, de mais de 400 páginas, serviu para criar o primeiro parque nacional da Espanha
Ele fez mestrado e doutorado em Ecologia pela Ecole Normale Supérieure, em Paris, e tinha experiência nas áreas de zoologia, bioacústica, ecologia e biogeografia. Em 1978 recebeu o convite de Zeferino Vaz, Sérgio Porto e Fernando de Ávila Pires para criar na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), um Laboratório de Bioacústica, compondo um dos primeiros centros de pesquisa dedicados ao estudo dos sons dos animais, especialmente das aves, no Brasil.
Jacques costumava dizer que o canto das aves funcionava como a identidade de cada espécie. “É fundamental para qualquer ser vivo reconhecer quem pertence à sua espécie, especialmente para o acasalamento, senão a espécie vai desaparecer”, dizia. Então, com o intuito de conhecer, preservar e divulgar os sons desses animais iniciou, na UNICAMP, a construção de uma coleção científica de sons de animais, o Arquivo Sonoro Neotropical. Sua coleção foi crescendo com os anos e agregando gravações feitas por outros grandes pesquisadores, como o professor Adão José Cardoso (um dos fundadores do Museu de Diversidade Biológica - Zoologia, da UNICAMP).
Com o auxílio de registros sonoros, Jacques descreveu para a ciência a pequena coruja Caburé-da-Amazônia (Glaucidium hardyi Vielliard, 1990) e o Lenheiro-da-Serra-do-Cipó (Asthenes luizae Vielliard, 1990) – ave que hoje está ameaçada de extinção. Em sua homenagem, o Bacurau-de-São-Francisco – ave encontrada em algumas localidades ao longo do Rio São Francisco nos estados da Bahia e Minas Gerais, quando descrito, recebeu o nome de Nyctiprogne vielliardi (Lencioni-Neto, 1994). O seu nome também é reconhecido em outras áreas do conhecimento, como a herpetologia, em que foi homenageado em 2011 com a descrição do sapo Proceratophrys vielliardi (Martins & Giaretta, 2011) que também recebeu seu nome.
Quando do seu falecimento, em 2010, Jacques estava envolvido em um convênio com a Universidade Federal do Pará (UFPA), onde colaborava na criação do Arquivo Sonoro da Amazônia (ASA).
Após a sua morte, o Arquivo Sonoro Neotropical continuou sob coordenação do prof. Luís Felipe Toledo, com auxílio de alunos e bolsistas, com a missão de digitalização do acervo, divulgação e preservação dos arquivos audiovisuais. Em 2010 a coleção recebeu o nome de Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard (FNJV) e em 2014 foi incorporada como uma coleção científica do Museu de Diversidade Biológica - Zoologia da UNICAMP.